Viva a Liberdade! Viva a Democracia!
Um bem-haja aos que nos libertaram, há 50 anos.
“A Serra do Cume e a Serra da Ribeirinha constituem os bordos actualmente visíveis da caldeira de colapso do Vulcão dos Cinco Picos, o mais antigo da ilha Terceira.
Daqui observa-se todo o interior da Caldeira dos Cinco Picos (a maior caldeira dos Açores com um diâmetro médio de 7 km), uma extensa caldeira dominada pelo verde das pastagens e o negro dos muros de pedra vulcânica, onde pontuam cerca de 15 cones de escórias de idade recente.” (Geoparque Açores)
Não o natal do pai natal capitalista, o natal da coca-cola, do consumo desenfreado, o natal americano, das melodias melosas e pegajosas. Natal com letra pequena.
Também não o natal da Igreja, bafienta e criminosa, corrupta e corrompida.
Sim, o Natal de Cristo, o condenado pela falível justiça do Homem, sempre longe da Justiça. Ele, que era mais do que um simples homem, não aprovaria, por certo, o que fizeram em seu nome, os que mataram em seu nome, os que puniram em seu nome, os que violaram em seu nome.
Feliz Natal, é o que desejamos a quem passar por aqui.
Feliz Natal!
«Perante este cenário [de degradação dos ecossistemas terrestres motivada pela intervenção humana e pelos fenómenos climáticos extremos], a escolha que a Humanidade terá de fazer está entre continuar o crescimento desequilibrado dos últimos 50 anos, baseado em consumo e produção insustentáveis, ou transitar para uma vivência responsável com a Natureza com actividades, comportamentos e atitudes de solidariedade: antecipação e prevenção, a par duma eficaz e eficiente implementação de medidas e acções de regeneração e recuperação das áreas e ecossistemas degradados. O recente reconhecimento do direito humano a um ambiente limpo, saudável e sustentável, sendo relevante no contexto actual, coloca igualmente em evidência os direitos da Natureza.»
Maria José Roxo, Desertificação em Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023, pág. 18-19 (realce nosso)
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Não tínhamos ainda ouvido falar dos direitos da Natureza. Ainda que o ser humano não se devesse excluir da Natureza, pois também ele é um animal (embora, no caso, se fale de uma segunda natureza), a ideia parece-nos espantosa. Afinal, se há uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque não uma Declaração Universal dos Direitos da Natureza, de forma a protegê-la das actividades humanas intrusivas e disruptivas dos ecossistemas? Há aqui um conceito que vale a pena explorar.
A voz do Homem é também a voz da Natureza, uma natureza falante e reflexiva. Uma Natureza que se questiona a si mesma, assim como a sua própria origem e existência. O Homem tem toda a legitimidade para criar essa Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Aliás, tem esse dever.
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A Fundação Francisco Manuel dos Santos está de parabéns, pois dá-nos a conhecer os pensamentos dos melhores académicos portugueses de diferentes áreas, como é o caso da Professora Maria José Roxo relativamente à Geografia.
Zygmunt Bauman (1995)
Zygmunt Bauman, A
Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, Relógio d’Água, 2007,
p.188.
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Não se deve responder à barbárie com a barbárie. A lei de talião, no caso do conflito israelo-palestiniano, não se deve aplicar, caso contrário também se tornará bárbaro quem a aplica. O mais forte tem o dever moral de ponderar a resposta à agressão, quando essa resposta implicar a perda de vidas humanas inocentes (crianças, principalmente), ainda que tenha o direito de se defender contra a agressão, e ainda o direito e o dever de tudo fazer para libertar os reféns, com vida e saúde, se possível. Esta é a nossa posição, nesta fase do conflito israelo-palestiniano, que não se iniciou no dia 7 de Outubro, ainda que nesse dia os terroristas (sim, terroristas e não “combatentes”) tenham agredido barbaramente os israelitas. Se um dos inimigos não parar a espiral de violência, então a barbárie não terá fim.
O “Apocalipse” é um conceito religioso, uma profecia de São
João, um livro da Bíblia. Já a “extinção”, as cinco extinções que precederam a
actual, estão cientificamente comprovadas (ao contrário dos apocalipses, sempre
desmentidos, porque são baseados numa crença irracional). Infelizmente a
situação actual não é um desses apocalipses que poderão vir a ser desmentidos. Seria
bom se assim fosse. A situação actual exige planeamento, preparação e acção.
O camarada ali em cima, se pensa que os activistas agem com
base numa crença religiosa e obscura, engana-se redondamente. O mundo já se
encontra em colapso e ele ainda não reparou (sugiro-lhe a leitura do livro de Jared Diamond, Colapso, Gradiva, 2008).
É caso para dizer: “Fia-te na Virgem e não corras, pá!”
E não, o capitalismo não vai salvar-nos, como atestam, por
exemplo, as extensas áreas dedicadas à lucrativa cultura do abacate, altamente consumidora
de água, nos áridos concelhos do Algarve. Um dia destes, ainda
vamos ter de decidir se a escassa água disponível nas albufeiras e nos mantos
freáticos, vai para os campos de abacateiros e para os campos de golfe ou para
a população das aldeias e lugarejos que povoam a serra seca. Impunham-se outras
culturas, adaptadas à secura e poupadoras de água, mas a cobiça fala mais alto
(nem multas ou ordens do tribunal demovem estes "grandes" agricultores).
Entretanto, continua no discurso dos políticos o mantra do “crescimento
económico” a todo o custo, custe o que custar, com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, a adiar as medidas conducentes à redução da emissão de gases com efeito de estufa por mais 5 anos, lá para 2035, para não comprometer o “crescimento económico” do seu país. O capitalismo é belo.
Deixo aqui algumas notícias destes dias que correm (não, não é
um apocalipse).
Ora, a calma da paz incita ao esquecimento, ao passo que o ruído e o furor dos conflitos jamais abandonam a memória.
Michel Serres*
(*) Michel Serres, Antes é que era bom! Guerra & Paz, 2018, p. 15
Ericeira, 2017 © AMCD
Um dos lugares mais frescos de Portugal para escapar à canícula, descoberto agora pelos ricos.
O mundo não está bem.
Raramente, nas últimas décadas, esteve tão perto de abismos diversos.
António
Barreto, aqui e no Público de hoje
Quem luta com monstros deve velar
para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se olhares,
durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Nietzsche
Abismos diversos. Temos o abismo nuclear, o abismo climático, o abismo demográfico,
o abismo económico e financeiro (as crises geradoras de desemprego e miséria), o
abismo sanitário (virológico e bacteriológico, pandémico), o abismo político (a ascensão dos regimes autoritários) e mais algum abismo que nos escapa ou, pior, que desconhecemos, como o peru do Dia da Acção de Graças que nem suspeita o que lhe vai acontecer, tão bem tratadinho que é.
Caminhamos numa senda perigosa e estreita, rodeada de abismos. Não sabemos como estaremos quando sairmos daqui, ou se iremos sequer sair daqui.
E o que acontece quando nos pomos a mirar os abismos mais
profundos, ali, até onde a vista alcança e se perde no negrume? Ouvimos soar do fundo uma ameaça aterradora. Um rugido gutural, nunca ouvido. O fim.
O melhor é atalhar caminho e estugar o passo, sem olhar para trás.
Há momentos em que o Kitsch se pode tornar uma coisa nauseabunda e é difícil imaginar que a própria hierarquia da Igreja não reconheça e não se sinta incomodada por ela.
António Guerreiro
"Deus ex Media", Ipsilon, Público, 11 de Agosto de 2023
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O que é a Igreja afinal, senão a primeira multinacional do mundo, com as suas sucursais implantadas desde cedo em todos os continentes, à excepção da Antárctida. Os seus serviços religiosos têm de ser promovidos de modo a serem empacotados e vendidos em todo o lado. Vive por isso bem com o kitsch.
Paulatinamente, e só dessa forma, a Igreja, com a sua inércia temporal, vai-se ajustando lentamente à rápida mudança social imposta pelas agendas progressistas. Também ela muda, sob pena de, se não o fizer, não conseguir vender os seus serviços, independentemente da vontade de Cristo (que expulsou os vendilhões, uma espécie de mercadores, do templo). Se a Igreja é a esposa de Cristo, então é uma esposa emancipada e empoderada que não precisa da anuência do marido para ir mais além. Nada que não soubéssemos há muito.